“Oh Meu Deus, eu sinceramente me arrependo
Por ter te ofendido
E eu detesto todos os meus pecados
Por causa das tuas punições
Mas principalmente, porque, meu Deus
Eu te ofendi, que é só bondade
E merecedor de todo meu amor
Eu firmemente decidi
com a ajuda da tua graça
Confessar meus pecados, fazer penitência
Concertar minha vida e evitar
As tentações do mal”.

Uma Madonna arrependida? Educada? Mais amena?

Muito longe disso, Like a Prayer se mostra o grande álbum de Madonna na década de 80. Após o sucesso estrondoso de seus discos anteriores, polêmicas acertadas e uma fórmula de sucesso que perdurava por anos, Madonna resolve mudar não somente o “look” mas também a música.

Com canções mais maduras, letras mais trabalhadas, um visual natural e uma polêmica inteligente, Madonna reúne os ingredientes necessários para um de seus grandes sucessos, tanto de público como de crítica.

Trabalhando com Patrick Leonard, Stephen Bray e colaborando com Prince na música “Love Song”, Madonna começa a levar mensagens com suas canções que, mais do que nunca, refletem sua vida pessoal, perdas e desejos.

A faixa de abertura “Like a Prayer” deixa em aberto se Madonna fala sobre sua relação com Deus ou sobre um amor. Começando com um instrumental sinistro que subitamente se transforma em um som de coral de igreja, a canção se transformou em sucesso imediato. Aliada ao famoso clipe onde Madonna sonha com um santo negro que se transforma em humano e com quem ela se beija, a música chocou a Igreja Católica e rendeu à Madonna o famoso comercial com a Pepsi, que foi proibido após a Igreja ameaçar boicotar o refrigerante.

“Express Yourself” se transformou em outro clássico da carreira de Madonna, uma música que questiona o significado de amor verdadeiro e um clipe de produção milionária onde ela aparece como uma esposa sem atenção do marido que busca a felicidade nos braços de outra pessoa.

Em “Till Death Do Us Part” é possível perceber claramente como era a relação de Madonna com seu ex marido Sean Penn . Entre vasos atirados, bebidas e mentiras ela chora a perda de seu grande amor até então.

Outro grande momento do álbum, “Cherish” é o melhor exemplo de canção de amor, simples porém profunda e com um som gostoso de se ouvir, fala sobre o desejo de se encontrar e estar com o seu amor e cuidar para que nunca acabe, outra vontade pessoal de Madonna.

“Oh Father”, uma das melhores do cd, relata a turbulenta relação pai-filha e suas conseqüências na vida dos envolvidos. O clipe, que chegou a ser censurado pela MTV, mostra a menina Madonna chorando a perda da mãe e sonhando com uma vida melhor enquanto se relaciona com um pai, e posteriormente um marido, violentos.

“Keep it Together” e “Pray for Spanish Eyes” preparam o fechamento do álbum com maestria. A primeira é uma música animada com uma pitada de hip hop que, além de não te deixar parado, fala sobre vida, família e amizade. A segunda, que chegou a ser lançada nas rádios da América do Sul e Espanha, é uma das melhores baladas da Madonna e fala sobre a tristeza da perda.

O som de “Like a Prayer” ao contrário misturado com guitarras, vozes sussurrando e gritando e orações sendo ditas pode soar estranho, mas é assim que Madonna encerra o disco com chave de ouro. “Act of Contrition”, cujos versos começam esse texto, poderia ser vista como um arrependimento e uma punição sobre coisas feitas no passado ou um questionamento sobre o que é certo e errado no contexto da individualidade de cada um. Talvez, seja uma atitude de expulsar a culpa por algo considerado errado.

As hipóteses são inúmeras, cada um pode inventar uma, dê uma ouvida na faixa, porém, com esse enigma que somente Madonna poderia decifrar, “Like a Prayer” definitivamente se tornou um marco na carreira e vida de Madonna, a mostrou como uma pessoa mais adulta e foi um ponto de virada para ela.